Filocalia Tomo I Volume 2 - João Carpatos


JOÃO CARPATOS





     AOS MONGES DA ÍNDIA:
CEM CAPÍTULOS DE EXORTAÇÕES

 DISCURSO ASCÉTICO COMPLEMENTAR
AOS CEM CAPÍTULOS





Não sabemos nem quando viveu nosso Pai entre os Santos, João Carpatos, nem aonde cumpriu ele sua ascese e suas outras ações. Dele, Photius diz apenas: “João Carpatos deve muito a Diádoco. Sua obra tem por título: 'Endereçado aos monges da Índia que o exortaram'. Ele limitou esta obra a cem capítulos, nos quais, como um pai, ele consola seus leitores pedindo-lhes que agüentem os sofrimentos e que se mostrem pacientes nas tentações que acontecerem”.


É quase certo que João Carpatos viveu no século VII e que foi bispo na ilha de Carpatos, no mar Egeu, entre Rodes e Creta. Muitos manuscritos de sua obra o confirmam. E sabemos que um bispo de Carpatos, chamado João, assinou os Atos do Concilio de Constantinopla em 680. De resto, é provável que, antes de se tornar bispo, nosso autor tenha vivido num mosteiro cenobítico, talvez em um dos mosteiros da ilha. Tudo evidencia que sua obra esteja ligada à escola do Sinai. Mas ela é original sob mais de um aspecto. A Filocalia de Nicodemo só utilizou dela dois testemunhos: uma centúria de capítulos e uma longa carta, ambas endereçadas aos monges da Índia.



Pelo tom, pela quantidade de notações a respeito da ordem cósmica e da ordem social, a Centúria é incontestavelmente uma obra pessoal. Mas por suas contínuas citações da Escritura, ela é também um testemunho de sabedoria bíblica. Nada é afirmado que não tenha alguma raiz nas Escrituras. A seiva bíblica está em toda parte, irriga todo o tecido filocálico. Mas os eventos e as palavras escriturárias não servem senão para ilustrar o combate interior, o combate espiritual, o que é característico da escola do Sinai.



Antes de tudo, o monge – o solitário – deve ser humilde, não confiar apenas na força da ascese corporal, fechar a porta a tudo o que mancha e corrompe, manter a língua no “bom silêncio”, fugir para a oração e a eucaristia. Ele reencontra assim o “estado de beleza”, a “simplicidade nua da natureza”, a “saúde do intelecto”. Então, para além do pecado, na nudez original, vem o Espírito Santo, o deslumbramento, a “glória da filha do Rei”. Toda a vida é entregue ao coração.



A carta que completa a Centúria visa desviar o monge de comparar a sua vida à dos homens do mundo. Porque ele se ofereceu ao sofrimento, porque suas faltas estão a nu, mesmo seus defeitos estão “mais altos do que a justiça dos homens”. Porque ele foi aos extremos, ele se pôs em situação de nada dever a si mesmo e de tudo esperar da piedade de Deus. Porque ele se abriu para a eternidade ao invés de se fechar no século, ele está dedicado ao paradoxo das beatitudes. A consolação cintila nesta breve defesa e ilustração da vida monástica.





DE NOSSO SANTO PAI JOÃO CARPATOS
AOS MONGES DA ÍNDIA QUE LHE ESCREVERAM 

CEM CAPÍTULOS DE EXORTAÇÕES







Quando os mendigos levam aos reis da terra as flores da primavera, acontece muitas vezes que não apenas eles não sejam expulsos, mas que ainda recebam dons em troca. Também eu, porque vocês me ordenaram, reuni de muitas partes uma centúria de belas palavras e as ofereço a vocês, que têm parte na vida dos céus[1]. Que eu possa lhes ser agradável, e receber em troca o dom das suas orações.





1. Enquanto for eterno o Rei do universo, cujo Reino não tem começo nem fim, também serão recompensados os esforços daqueles que escolheram sofrer por ele e pelas virtudes. Pois os homens da vida presente, por maior que seja seu esplendor, desaparecem totalmente com esta vida. Mas as honras de Deus liberta aqueles que são dignos dele, e as honrarias que lhes são dadas com a incorruptibilidade permanecem para sempre.



2. O bem-aventurado Davi, ao compor um hino a Deus cantado por toda a criação mencionou em primeiro lugar os anjos e todas as potências invisíveis, e depois desceu até a terra[2]. Ele não descartou nem as feras, nem as bestas do campo, nem os pássaros nem as serpentes. Ele considerava que o cântico das últimas criaturas adorava igualmente ao Criador. Pois ele queria que tudo o que foi criado por ele lhe oferecesse a mesma oferenda. Como então o monge, que é comparável ao ouro de Ofir[3], poderá suportar engordar ou ser preguiçoso quando lhe é pedido que cante o hino?



3. Assim como o fogo envolvia a sarsa mas não a consumia[4], também naqueles que receberam o carisma da impassibilidade, ainda que tenham o corpo pesado e quente, este calor não perturbará nem prejudicará a carne ou o intelecto. Pois a voz do Senhor extinguiu a chama da natureza. A vontade e a palavra de Deus separaram aquilo que a natureza unira.



4. A lua que cresce e decresce expõe o estado do homem que ora faz o bem ora se entrega ao pecado, depois torna a se arrepender e volta à vida virtuosa. O intelecto que falhou não está, portanto, perdido, como alguns dentre vocês pensam, assim como não foi o corpo da lua que decresceu, mas sua luz. Assim, pelo arrependimento, o homem pode adquirir novamente o esplendor que lhe é próprio, do mesmo modo como a lua, depois de seu declínio, volta a se revestir de luz por si só. Pois aquele que crê em Cristo viverá, ainda que esteja morto[5]. E foi dito: “Saberão que eu, o Senhor, falei e faço[6]”.



5. Se, quando se levantarem os enxames das formações inimigas[7] contra a reflexão, você se deixar vencer, saiba que por algum temo você estará separado da graça divina, e que a partir daí, por uma justa sanção, você estará entregue nas mãos da queda[8]. Então, lute, para que a graça não o abandone por causa de sua negligência, ainda que por um só instante. Mas se, dominando a queda, você superar o muro dos pensamentos passionais e das contínuas sugestões impuras da malícia do inimigo, não ignore a graça que lhe foi concedida do alto. Com efeito, o Apóstolo disse: “Não eu, mas a graça de Deus que está em mim[9]” construiu este troféu, ergueu-me acima dos pensamentos impuros que se levantaram contra mim, e me libertou do homem injusto[10], ou seja, do diabo e do velho homem. É assim que, aliviado, separado do corpo pelas asas do Espírito Santo, eu pude voar mais alto do que os demônios que me perseguiram, capturaram o intelecto humano na aprovação daquilo que eles suscitaram e propuseram pela imposição e pela violência. Aquele que me fez sair da terra do Egito[11], deste mundo aonde se perdem as almas, derrubou Amalec[12] combatendo secretamente por mim, e me concedeu esperar que o Senhor extermine diante de nossa face[13] todas essas outras nações que são as paixões ímpias. É ele, nosso Deus, que nos dará a sabedoria e o poder[14], pois alguns receberam a sabedoria mas não o poder do Espírito que permite vencer os inimigos. É ele que erguerá a sua cabeça acima dos inimigos[15] e lhe dará asas como à pomba para que você voe e vá repousar junto de Deus[16]. O Senhor colocará em suas mãos um arco de bronze[17], ele lhe permitirá ser firme, hábil e forte contra o adversário, e ele fará tropeçar sob seus pés todos os que se voltaram contra você[18]. Entregue, assim, em oferenda ao Senhor, a graça da pureza, pois ele não o entregou nas mãos das vontades da sua carne e do seu sangue e dos espíritos corruptores e impuros que os excitam, mas o confortou com sua própria direita[19]. Construa para ele um altar, como Moisés depois de derrubar Amalec[20]. Eu o confessarei e o louvarei, Senhor, eu cantarei seu nome, exaltarei seu poder.[21] Pois você livrou mina vida da corrupção[22] e me resgatou das armadilhas e das malhas do mal feroz que nos cerca com suas numerosas formas.



6. Os demônios impuros acendem em nós as paixões impuras. Eles as renovam, exaltam e multiplicam. Mas as meditações da palavra de Deus, em especial aquelas que nos fazem derramar lágrimas, mortificam e dissolvem as paixões, por mais inveteradas que sejam. Pouco a pouco elas reduzem a nada os males da alma e as ações pecadoras do corpo. Apenas é preciso que nós, pela prece e uma esperança inflexível e intransigente, não negligenciemos o estar assiduamente junto a Deus.



7. Porque põe Cristo louvor na boca de fiéis que são ainda como crianças quanto à malícia? Certamente porque ele converterá, graças à salmódia, o inimigo e justiceiro[23] que nos atormenta: o inimigo das virtudes e o justiceiro do mal, o diabo. Também nós, quando louvamos o Mestre na simplicidade do coração, destruímos em nós as armadilhas do inimigo. Pois, por sua imensa glória, você destruiu os adversários e os inimigos que nos combatem[24].



8. Ser em si um aborto significa que consumimos agora a metade das coisas da carne, mas que a outra metade consumiremos no século por vir. Pois cada qual colherá os frutos de sua própria vida.



9. O melhor jejum, aquele que o monge deve preferir, é o de não se deixar enganar pelas paixões, e cultivar continuamente uma grande hesíquia.



10. Os demônios que odeiam nossa alma insinuam-se em alguns, até fazer com que sintamos prazer em qualquer vão elogio. Então, inchados de presunção, damos livre trânsito à vanglória, e nosso inimigos já não têm dificuldade alguma em nos capturar.



11. Abra antes ao que o censura do que ao que o elogia, pois deste está escrito que ele não difere em nada do que é maldito[25].



12. Quando, depois de se ter aplicado à virtude do jejum, você for obrigado a renunciar a este por causa de uma doença, dê graças, com o coração partido, àquele que é a providência e o juiz de todos nós. E se você quiser ser sempre humilde diante do Senhor, jamais se revolte contra ninguém.



13. Sabendo que a oração nos protege e mina o inimigo, este, aplicando-se em nos separar dela, insufla em nós o desejo pelas letras gregas[26], às quais havíamos renunciado, e nos incita a que nos dediquemos a elas. Não nos deixemos persuadir por ele. Perdendo o rumo de nossa própria tarefa, recolheríamos assim os espinhos e cardos em lugar dos figos e das uvas[27]. Pois a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus[28].



14. Foi dito: “Eu lhes anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo[29]”, não para uma parte do povo. E: “Que toda a terra o adore e cante[30]”. Não foi dito: “uma parte da terra”. E nem seria preciso. Cantar não é para quem pede socorro, mas para quem está alegre. Se é assim, não nos desesperemos jamais, mas percorramos contentes a vida presente, pensando nesta alegria e nesta bem-aventurança que ela nos traz. Mas misturemos nesta alegria o temor a Deus, conforme foi dito: “Exultem no Senhor, tremendo[31]”. Foi assim, cheias de temor e grande alegria, que, correndo, as mulheres que acompanhavam Maria partiram do túmulo[32]. Também nós, se um dia unirmos o temor e a alegria, nos lançaremos do túmulo inteligível. Eu me admiro que seja possível ignorar o temor. Pois ninguém está sem pecado, mesmo Moisés, mesmo o apóstolo Paulo. Mas entre estes últimos, o amor divino foi mais forte, e baniu o temor[33] no momento do êxodo.



15. A Escritura testemunha que todo aquele que crê de todo coração e humildemente, ainda que apaixonado, receberá a graça da impassibilidade. De fato, foi dito: “Hoje você estará comigo no Paraíso[34]”. E: “Sua fé a salvou: vai em paz[35]”, na paz bem-aventurada da impassibilidade. E muitos outros textos com o mesmo sentido. E ainda: “A uva morrerá quando for esmagada[36]”. E: “Que aconteça com vocês conforme sua fé[37]”.



16. Quando somos sufocados pelas paixões e os demônios nos fustigam com maus pensamentos, devemos em primeiro lugar nos apoiarmos sobre a fé no Senhor e colocarmos com mais certeza ainda nossa esperança nos bens eternos prometidos, que os inimigos, em sua inveja, esmeram-se em nos despojar e em nos separar deles. Pois se estes bens não fossem tão grandes, os demônios não os invejariam, não queimariam de inveja, não nos perfurariam com pensamentos impuros como flechas, imaginando apaziguar seu furor demente e pensando reduzir-nos ao desespero à custa de nos atormentar de maneira insuportável.



17. Algumas pessoas têm como regra que o conhecimento mais verdadeiro é a prática. Portanto, esforcem-se para em primeiro lugar traduzir em obras a fé e o conhecimento. Pois quem se agarra apenas ao conhecimento fica cego e ouvirá: “Eles dizem conhecer a Deus, mas o negam com suas obras[38]”.



18. É no momento das festas e das santas sinaxes[39], em especial quando devemos nos aproximar da mesa mística, que com mais freqüência os demônios se esforçam em manchar o atleta com imaginações desonrosas e o fluxo de sêmen. Mas mesmo assim eles não conseguem alquebrar aquele que está habituado a suportar a tudo paciente e nobremente. Que estes seres tortos não se glorifiquem às nossas custas, como se eles fossem direitos..



19. Os inimigos fortificam contra si mesmos nosso caráter e nossa resolução quando dão à nossa alma as bofetadas de tantas e indizíveis tentações. Pois são as numerosas aflições inexprimíveis que tecem a coroa. É nas fraquezas que se cumpre o poder de Cristo[40]. E é nas condições mais sombrias que  costuma florescer a graça do Espírito Santo. “A luz levantou-se nas trevas para os homens direitos[41]”, “se mantivermos firmes até o fim a segurança e a esperança com que nos glorificamos[42]”.



20. Nada obscurece tanto a virtude quanto o deboche, o divertimento e o falatório. E nada renova tanto a alma envelhecida, nada a prepara tanto para se aproximar do Senhor, como o temor a Deus, a perfeita atenção, a meditação sem descanso nas palavras divinas, armando-se de orações e buscando a recompensa das vigílias.



21. Uma coisa útil e vantajosa para a alma é suportar com firmeza todas as aflições, quer venha dos homens, quer dos demônios, e considerar com rigor que as penas que nos oprimem são o preço que devemos pagar, enfim, jamais nos prendermos a outrem, mas sempre nos condenarmos. Pois quem reprova no outro suas próprias aflições perdeu o justo discernimento daquilo que deve fazer.



22. Pode acontecer que um homem, malgrado seu fervor, se afasta do caminho direito quando as tentações se multiplicam. Pois ele sai de sua ordem por haver, como diz a Escritura, esgotado toda a sua sabedoria e toda a sua arte[43]. Assim aprendemos a não confiar em nós mesmos[44], a fim de que Israel não se glorifique dizendo: “Foi minha mão que me salvou[45]”. Que ele aguarde ser estabelecido no seu estado primeiro, no estado de beleza, quando, por ordem de Deus, for derrubado e expulso o maligno que nos incita a colocar as paixões em tudo o que vemos e ouvimos, que nos arrasta ao pecado, que infla o intelecto como uma nuvem carregada, e que faz a carne se sentir pesada e inchada de modo indizível. Quanto à razão inata, que é uma coisa simples e natural, à semelhança das crianças recém-nascidas, o maligno faz dela uma coisa complicada e habilidosa para o bem dos pecados, alterando-a e desnaturando-a pela irresolução.



23. O homem é uma grande coisa. Ele cresce por dentro e mais ainda pelas virtudes. No entanto, este grande ser teme o pecado, como o elefante teme o camundongo, por medo de, após haver pregado aos outros, seja ele mesmo julgado inapto[46].



24. Não é apenas ao aproximar-se o fim do mundo que o diabo falará contra o Altíssimo, como diz Daniel[47], mas desde já, quando, por meio de nossos pensamentos, ele lança pesadas blasfêmias contra o céu, ultrajando o próprio Altíssimo, suas criaturas e os santos mistérios de Cristo. Mas nós, montados sobre o grande rochedo do conhecimento, não nos deixemos amedrontar por estas blasfêmias nem nos espantar com a audácia do maldito. Consagrando-nos com mais e mais fervor à fé e à oração, e recebendo socorro do alto, conseguiremos repelir o inimigo.



25. Combatendo e injuriando com impudência, o inimigo assalta a alma que acaba de sair do corpo. Ele se mostra o amargo e temível denunciador das suas faltas. Mas é possível vermos então esta alma cheia de fé e de amor a Deus, ainda que antigamente tenha sido mortificada pelos pecados, não se deixar assustar por estes ataques e estas ameaças, mas antes colocar sua força no Senhor e, levada pelas asas da alegria encorajada pelas santas potências que a conduzem e rodeada pela luz da fé, responder com grande segurança ao demônio maligno: “O que existe entre você e nós[48], estranho a Deus? O que existe entre você e nós, desertor dos céus e mau servidor? Você não tem poder sobre nós. É Cristo, Filho de Deus, que tem poder sobre nós e sobre todos. Contra ele pecamos, e por ele somos defendidos. Temos sua cruz preciosa como garantia de sua misericórdia para conosco e de sua salvação. Fuja para longe de nós, miserável. Nada existe entre você e os servidores de Cristo”. Quando a alma diz estas coisas com coragem, o diabo vira as costas, lamentando-se com grandes gritos, incapaz de resistir ao nome de Cristo. Chegando ao alto, a alma desce voando sobre o inimigo para feri-lo, como o pássaro que se chama “Asa rápida[49]” quando mergulha sobre o corvo. Depois ela é transportada em felicidade pelos anjos divinos aos lugares que lhe estão assinalados conforme seu estado.



26. Se consentida, a menor tentação impede o monge mais fervente de progredir. Convença-se com o exemplo da rêmora[50], este peixe minúsculo capaz de deter apenas com seu contato um grande navio[51], sem que este consiga se desembaraçar de tal obstáculo. E lembre-se daquele que disse: “Eu, Paulo, quis chegar ao Senhor uma, duas vezes, e Satanás o impediu[52]”. Mas não se perturbe com isto. Antes, lute com toda a sua paciência, e você encontrará a graça.



27. Se o homem, por florescente de virtudes que seja, cai na negligência e se desvia daquilo que deve fazer, rapidamente ele verá cair sobre si os filhos pérfidos do Oriente – Amalec e, sobretudo, Madian, a potência que ama a prostituição[53] – com seus camelos, que são as lembranças apaixonadas, que não têm número, e eles corrompem todos os frutos da terra[54]: as melhores ações e os melhores hábitos. Então Israel se empobrece, definha, e é obrigado a apelar para o Senhor. É assim que do céu é enviada uma boa inspiração, semelhante à que Gedeão recebeu, por sua grande fé e sua grande humildade. “Minha família, dizia ele, é a mais humilde de Manasses[55]”. Eu e meus pobres trezentos homens[56], somente pela graça poderemos nos opor a tamanhas multidões e alcançar paradoxalmente os troféus.



28. Você não será capaz de caminhar sobre a áspide e o basilisco[57], etc., se, após orar a Deus com inúmeras súplicas, não receber dele anjos que o protejam, que o carreguem com suas próprias mãos e o levem além dos pensamentos pantanosos.



29. Se formos vencidos depois de lutarmos valorosamente, não devemos nos desencorajar, nem renunciar, mas nos levantarmos e recuperarmos a confiança escutando as palavras de Isaías, cantando: “Vocês que eram fortes foram vencidos, demônios malignos. E se vocês voltarem com força serão novamente vencidos. Se vocês tiverem projetos, o Senhor os dispersará. Pois Deus está conosco[58]”, Deus que ergue os que foram derrubados[59] e que está sempre pronto a destruir nossos inimigos desde que nos arrependamos.



30. É impossível a um homem testado pelas tentações atravessá-las sem sofrer. Mas depois disto, tendo cultivado a pena e a aflição em seu coração, tal ser será cumulado de felicidade, doces lágrimas e pensamentos divinos.



31. Se tanto Isaac como Esaú fracassaram, um no desejo de abençoar, outro correndo para ser abençoado[60], porque concede sua piedade, sua bênção e a unção do Espírito, não a quem queremos, mas a quem está predestinado, não nos perturbemos nem fiquemos enciumados quando vemos progredir em virtude algum dentre os mais miseráveis e menores de nossos irmãos. Nisto está aquilo que você ouviu dizer o Senhor: “Ceda-lhe o lugar, para que ele se assente mais acima[61]”. Eu admiro mais aqui a sábia e misteriosa decisão do juiz: que o menor e último seja o primeiro e nos conduza, e que nós, que estávamos mais adiantados, tanto no tempo como em ascese, sejamos os últimos. Manteremos assim o lugar que cada um de nós recebeu do Senhor[62]. Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também pelo Espírito, conforme está escrito[63].



32. Jamais aceite que aquele que lhe está confiado lhe diga: “deixe-me livre, para que eu procure a virtude, para que eu tente fazer isto ou aquilo, e assim eu caminhe no caminho direito”. Pois é claro que quem fala deste modo cumpre com sua própria vontade e transgride o melhor: a obediência.



33. Ainda que as paixões da carne e da alma tenham proliferado, elas desaparecerão com o tempo e por ordem de Deus. Mas a piedade de Cristo jamais perece. Pois a piedade do Senhor, do século atual ao século futuro revestirá aqueles que o reverenciam[64].



34. Os tesouros dos reis serão cheios de ouro[65], e os intelectos daqueles que são verdadeiramente monges serão cumulados de conhecimento.



35. Pode acontecer que o mestre se exponha à desonra quando toma sobre si as tentações pelo bem daqueles a quem socorre espiritualmente. De fato, foi dito: “Temos um espinho na carne, somos desonrados, desprezados, fracos. Mas vocês, vocês são gloriosos e fortes em Cristo[66]”.



36. A fonte e o fundamento da corrupção que nos vem pela carne é o pensamento passional, que aquele que permanece sóbrio e vigilante após a queda expulsa por meio do arrependimento da alma. Pois vocês tomaram o luto, para que dentre vocês seja arrebatado[67] o pensamento mau e ímpio que os levou a praticar tal obra. O luto se opõe ao espírito da corrupção.



37. Àquele que desanima por sua impotência e obscuridade no caminho das virtudes, quem anunciará que ele verá a Jesus, não apenas no século futuro, mas desde já, aqui em baixo, vindo a ele pela graça da impassibilidade, como todo o poder e grande glória[68]? Este homem poderá então dizer com Sara, esta alma envelhecida na esterilidade e que, contra todas as previsões, gerou um filho de justiça: “Deus me deu motivos para rir[69]”, ou seja: ele deu uma alegria imensa a alguém que durante anos foi afligido por tantas paixões. Ou ainda, como expressou um outro intérprete: “Deus me cumulou de doçura. Ele renovou minha juventude como o fez à águia[70]”. Pois, após ter envelhecido nos pecados e nas paixões infamantes, agora eu renasci, reencontro a força e a doçura, eu que antes definhava na matéria. E é com um olhar apaziguado que eu agora vejo as coisas que estão no mundo. Eu reencontrei a simplicidade nua da natureza, ao mesmo tempo que a saúde do intelecto curado pela grande misericórdia de Deus. Por ter-me banhado no Jordão do conhecimento. Minha carne, como a do sírio Naaman[71], tornou-se semelhante à carne das criancinhas. Daqui em diante, pela graça de Deus, minha vida é una, eu me libertei da vontade da serpente[72] e do enxame dos pensamentos das malícias múltiplas e de todas as espécies, que antes, contra a natureza, trazia em mim.



38. Lembre-se que o Senhor lhe disse: Eu lhe roubei um dia tal ou tal graça na qual parecia-lhe que seu intelecto estava em estado de plenitude e repouso. E lhe dei em seu lugar tal ou tal graça equivalente. Ora, você, pensando na que eu lhe tirei e não vendo a que lhe dei em substituição, se tornou sombrio, aflito, mortificado pela tristeza. Mas entristecido assim por mim, você me alegra[73]. Quanto a mim, se estou triste, é para seu benefício, pois eu faço tudo para salvar, jamais para perder, a quem eu vejo como um filho.



39. Estabeleça para si mesmo uma regra de não comer peixe. E lembre-se então que o inimigo fará de tudo para levá-lo a querer comer peixe. Da mesma forma, você se sentirá tolamente impelido a usufruir tudo o que lhe for proibido, a fim de aprender o que Adão conheceu, o que lhe aconteceu literalmente. De fato, quando ele ouviu: “Desta única fruta você não comerá[74]”, foi justamente para esta única coisa proibida que ele correu e na qual colocou todo o seu desejo.



40. Pois Deus salva a um pelo conhecimento, e a ouro pela pureza e a inocência. Você deve saber: “Deus jamais afastará o inocente[75]”.



41. Aqueles que mais se aplicam à oração são atormentados por terríveis e selvagens tentações.



42. Se você decidiu revestir-se da impassibilidade, não negligencie nada, mas esforce-se o quanto puder para alcançá-la. Pois nós gememos, desejosos de vestir por sobre nós a moradia celeste, a fim de que, não apenas em nosso corpo após o fim do mundo, mas desde já, aqui em baixo, pelos dons que recebemos do espírito, o que é mortal seja absorvido pela vida[76]. Pois a morte foi engolida pela vitória[77]. E todos os Egípcios que nos atormentam e nos perseguem serão engolidos pelas ondas do poder que nos foi enviado do céu[78].



43. Se você esquecer aquele que disse: “Temo que após haver pregado aos outros eu me vejo como inapto[79]”, e “Que aquele que está de pé tome cuidado para não cair[80]”, e “Você que é espiritual, vigie a si mesmo, para que não seja você também tentado[81]”, se você ignora o erro e a iniqüidade cometidos por Salomão depois de tão grande graça[82], e se você deixar na sombra a inesperada negação do grande apóstolo Pedro[83], então conforte-se com seu conhecimento, vanglorie-se da vida que você leva, glorifique-se do tempo que passou na grande ascese, de livre curso ao orgulho. Mas não se desvie assim jamais, irmão. Antes, permaneça no temor, enquanto você respirar, ainda que você atinja a idade de Moisés[84]. Reze e diga: “Senhor, não me rejeite no tempo de minha velhice. Não me abandone, agora que minha força declina[85]”. “Em você eu não deixo nunca de cantar[86]”.



44. O Senhor lhe diz, como disse a Mateus: “Siga-me[87]”. Assim, se você busca de todo o coração seu Mestre bem-amado, acaso seu pé tope com a pedra das paixões[88] no caminho da vida, ou, com mais freqüência, caso você escorregue sem querer na lama e caia, cada vez que você cair e ferir seu corpo levante-se com todo seu coração e busque o Senhor, até que você o alcance. Assim é que “no seu santuário, com sua lembrança, eu me detenho diante de você para ver seu poder e sua glória” que me salvarão, e “em seu nome, Senhor, eu erguerei minhas mãos e responderei. De óleo e gordura serei saciado e meus lábios se regozijarão cantando[89]”. Pois para mim é uma grande coisa ser chamado de cristão, como me disse o Senhor por meios de Isaías: “É uma grande coisa para você ser chamado de meu filho[90]”.



45. Já foi dito que o Pai dará coisas boas a quem lhe pede[91], e também que ele dará o Espírito Santo aos que oram[92]. Por essas palavras podemos ver que aqueles que suplicam a Deus e são confortados com o pensamento de tal esperança, recebem não apenas a remissão das faltas, mas também o dom das graças celestes. Pois não é aos justos, mas aos pecadores, que o Senhor promete seus bens. “Se vocês, diz ele, que são maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais dará o Pai celeste o Espírito Santo àqueles que lhe rogam[93]”. Assim, peça, sem jamais relaxar, sem jamais hesitar, ainda que você seja o último a poder levar uma vida virtuosa, ainda que você seja muito fraco, ainda que você esteja longe de qualquer honra, e você receberá as maiores coisas.



46. Como convencer o incrédulo, ou o homem de pouca fé, de que a formiga pode ter asas, que uma lagarta pode voar, e que muitas outras coisas paradoxais encontram-se na criação, a fim de que, desembaraçando-se da doença da incredulidade e do desespero, também ele se torne alado, e, como uma árvore, se cubra das flores do santo conhecimento? De fato, foi dito: “Sou eu que faço florir a árvore morta e que dou vida aos ossos ressequidos[94]”.



47. Não nos deixemos consumir pelos cuidados que nos causam as necessidades do corpo. Creiamos em Deus com toda nossa alma, como disse um homem bom: “Confiem-se ao Senhor e receberão sua confiança”. Ou como escreveu igualmente o apóstolo Pedro: “Sejam castos, sóbrios e vigilantes nas orações. Coloquem nas mãos de Deus todos os seus cuidados. Pois ele cuidará de vocês[95].” Mas se você ainda hesita e não crê que ele vela por você para nutri-lo, lembre-se da aranha, e saiba o quanto o homem difere dela. Falo da aranha, que é o mais fraco e mais pobre dos seres. Ela não tem nada de seu, ela não reivindica, ela não disputa, ela não acumula, ela passa sua vida numa doçura e numa castidade totais, na extrema hesíquia, ela não se ocupa senão dos seus, ela permanece em seu próprio trabalho em estado de serenidade, de calma, ela só fala aos que veneram o ócio para lhes dizer: “Se um homem não quer fazer nada, que também ele não coma[96]”. Ela se cala a ponto de superar Pitágoras, que os Gregos admiravam acima de todos os filósofos por saber aquietar sua língua. Ora, ainda que não falasse a qualquer um, Pitágoras não deixava de conversar secretamente, de tempos em tempos, com os homens que lhe eram mais caros. Às vezes ele se dirigia aos bois ou às águias, ele gostava de lhes dizer coisas tolas ou delirantes. Ele se abstinha totalmente de vinho, e bebia somente água. Ora, por seu extremo silêncio que ultrapassa a tudo, a aranha supera o domínio que Pitágoras tinha de sua língua. Ela desdenha o vinho tanto quanto a água. Assim é a débil e humilde aranha, que vive assim em estado de hesíquia, que nunca sai ao exterior, que não vagueia conforme sua fantasia, nem trabalha e pena além da conta. O Senhor que permanece nas alturas dos céus e vê quem é humilde[97] (e ninguém é mais humilde do que a aranha), estendendo até ela sua providência, envia a cada dia um pouco de comida à sua pequena moradia, fazendo cair em sua teia os insetos de que ela necessita.



48. Mas alguém que esteja submetido pela voracidade poderá dizer: “Eu como uma enormidade, e como eu tenho muitos gastos, sou obrigado a me haver com inúmeros negócios desta vida[98]”. Que este homem se lembre das grandes baleias que levam suas vidas no oceano Atlântico, que são abundantemente alimentadas por Deus e que jamais conhecem a fome. De fato, cada um destes animais engole uma quantidade de comida que mesmo uma cidade de bom porte não conseguiria consumir em um dia. Foi dito: “Todos esperam de você que os alimente a seu tempo[99]”. Portanto, é Deus quem alimenta, tanto o que come muito como o que come pouco. Se você ouvir estas coisas, mesmo você cujo ventre é gordo e grande, confie-se daqui em diante inteiramente a Deus e à fé. Desembarace-se de todas as distrações do mundo e de todos os cuidados do intelecto. Não seja mais incrédulo, mas creia[100].



49. Se quisermos realmente agradar a Deus e nos ligarmos a ele com uma benfazeja amizade, voltemo-nos para ele com o intelecto nu, desembaraçado das coisas do século presente, de toda arte, todo pensamento, todo interesse, toda justificação, ainda que tenhamos sido instruídos com toda a sabedoria do mundo. Pois o divino dá as costas aos que chegam a ele com presunção, alimentados e inchados de vanglória; é o que certos intérpretes chamaram de pasto e que infla a vã presunção.



50. Como podemos vencer o pecado, quando ele nos capturou? A violência é necessária. Com efeito, foi dito: “Um homem escapa da perdição dando-se ao trabalho[101]”, esforçando-se continuamente para alcançar a saúde de seus próprios pensamentos. Destruir a violência com a violência nunca foi proibido pelas leis. Assim, se fazemos alguma obra de violência – ainda que pouca – e se esperamos daí por diante que nos chegue o poder do alto, enquanto permanecemos em Jerusalém[102], ou seja, em incessante oração e outras virtudes, algum dia esta obra nos trará uma grande violência, que não se poderá comparar com a nossa, que é fraca. Os lábios da carne são incapazes de expressar esta violência, capaz de dominar com sua força e vencer os piores hábitos e a malícia dos demônios, capaz de vencer até mesmo o impulso que empurra nossas almas para o pior, capaz de vencer inclusive os movimentos descoordenados do corpo. De fato, foi dito: “Veio do céu um ruído como o de um sopro violento[103]”, para expulsar a malícia que nos faz sempre nos voltarmos para o pior.



51. O inimigo está de tocaia como o leão em sua caverna[104]. Para nos capturar ele esconde as armadilhas e as armas dos pensamentos impuros e ímpios. Mas nós, se não dormirmos, poderemos lhe opor redes, armas e armadilhas mais fortes e mais duras. Pois a prece, a salmódia, a vigília, a humildade, o serviço pelo próximo, a compaixão, a eucaristia, a atenção às palavras divinas são a armadilha, a rede e o fosso, o chicote, o poder e as armas que nos protegem do inimigo.



52. Chegado a uma idade avançada, e dando graças a Deus por tê-lo eleito, o divino Davi disse ao final da bênção: “Agora seu servidor encontrou coragem para lhe dizer esta prece[105]”. Isto foi dito para que aprendamos que é preciso consagrar à oração muito esforço e tempo antes de descobrir este estado aprazível da reflexão, que é como um outro céu no coração, aonde reside o Cristo, como disse o Apóstolo: “Não sabem que Cristo habita em vocês?[106]



53. Se Cristo se tornou para nós justiça, sabedoria[107], etc., é evidente que ele também se tornou nosso repouso. De fato, foi dito: “Venham a mim, vocês que penam e dobram sob a carga, e eu lhes darei o repouso[108]”. É exatamente por isso que foi escrito que o sábado – ou seja, o repouso – foi feito para o homem[109]. Pois em Cristo, e somente nele, a raça humana encontrará o repouso.



54. Assim como existe um cálice de vertigem e um copo de cólera[110], também existe um cálice de fraqueza. Quando chegar o tempo, Cristo afastará de nós este cálice e o colocará nas mãos de nossos inimigos, para que daí em diante sejam eles, os demônios, e não nós, que fraquejem e tombem.



55. Assim como nas coisas exteriores existem cambistas, tecelões, criadores de pássaros, guerreiros, artesãos, lembre-se que nas coisas interiores existem entre os pensamentos ladrões, enganadores, envenenadores, caçadores, corruptores, assassinos, etc. É preciso fechar a porta rapidamente a estes lhes opondo a piedade e a oração. Mas é preciso acima de tudo fechar aos corruptores, a fim de que eles não profanem o lugar santo[111] nem manchem o homem de Deus.



56. Não é apenas pela palavra que podemos arrancar nossa salvação do Senhor, como aconteceu com o ladrão que gritou do alto de sua cruz[112], mas também pelo pensamento. De fato, está escrito: “A mulher que sangrava disse a si mesma: se eu apenas tocar a franja de seu manto serei salva[113]”. Foi também pelo pensamento que o servidor de Abraão falou a Deus sobre Rebeca[114].



57. O próprio pecado pode fazer voltar-se para Deus aquele que se arrepende  e que toma consciência de seu mau cheiro, da gravidade e da loucura de sua falta. Mas quem não quer se entregar ao arrependimento não se volta para Deus. Ao contrário, este guarda consigo sua falta, amarra-a com nós que ninguém consegue desatar, e o pecado o faz desejar cada vez mais intensa e violentamente sua própria perda.



58. Proteja-se contra os venenos de Jezebel[115], dos quais os piores são o orgulho e a vanglória. Você conseguirá, com a graça de Deus, se fizer pouco caso de sua alma, se a desprezar, se se prostrar diante de Deus, se clamar por seu socorro, se souber que as graças vêm do Céu. É por isso que foi dito: “Ninguém recebe nada que não lhe tenha sido enviado do céu[116]”.



59. A lei diz: “Se for testemunhado contra ele, e se ele não puder se desculpar, ele pagará[117]”. Imagine que numa festa chegue a você um pensamento de vanglória, e que queira fazer você falar desmedidamente. Mas os pensamentos angélicos o defendem. Eles afastam o pensamento falador e intempestivo. Se você não se afastar deste pensamento por meio de um silêncio salutar e permitir-lhe que se manifeste exteriormente, se você se deixar levar pelas fumaças do orgulho, então você terá que pagar a dívida, você será entregue com toda justiça, seja a um grande pecado, seja a graves sofrimentos corporais, ou à reprovação dos seus irmãos, ou ao castigo no século futuro. Pois nós prestaremos conta de toda palavra estéril e vã[118], por não sabermos controlar a língua. Devemos, portanto, guardar nossa língua com toda sobriedade e com toda vigilância.



60. Daqueles que são tentados pelos prazeres, pelos desejos, pelo amor à glória e pelos outros vícios, é dito que eles queimam de dia pelo sol e de noite pela lua[119]. Reze, então, para ser coberto pela divina nuvem que espalha o orvalho[120], a fim de escapar da chama ardente dos inimigos.



61. Não dê assento aos que são levados pelo vinho e se submetem às desordens à mesa. Também não acolha os que querem lhe falar com impudência, ainda que tenham passado longos anos na vida monástica. Não os permita, para que a podridão não o cubra, como diz a Escritura[121], e para que você não seja levado junto com os corações impuros e incircuncisos.



62. Primeiro Pedro recebeu as chaves, e depois Deus permitiu que ele caísse na negação[122], para que esta queda representasse para ele uma lição de prudência. Assim, se depois de haver recebido a chave do conhecimento, você cair em toda espécie de pensamentos, não se surpreenda. Mas glorifique o único sábio, nosso Senhor, que por meio desses acidentes coloca um freio à presunção que tenta se juntar ao conhecimento divino. Pois as tentações são um freio. Elas podem refrear o orgulho humano, pela providência de Deus.



63. Se muitas vezes o Senhor nos toma os bens, como fez com a riqueza de Jó – “o Senhor dá, o Senhor toma[123]” – sem dúvida nenhuma o Eterno tirará de nossas mãos também os males que nos enviou. De fato, foi dito: “Os bens e os males vêm do Senhor[124]”. O mesmo que nos enviou os males nos dará também a alegria e a glória eternas. “Do mesmo modo, diz o Senhor, como me levantei para destruí-los e fazer-lhes mal, eu reconstruirei ao invés de derrubar e plantarei ao invés de arrancar[125]”. Que se cale, portanto, o conhecido provérbio que diz: “Quem vai mal está privado de todo bem”. Pois o Senhor que faz irem mal as coisas, pode subitamente recolocá-las na luz.



64. Aquele que por meio da virtude, seja pela temperança, seja pela oração, se opõe aos demônios com força e veemência, receberá deles golpes cada vez mais duros, até que, vendo sua alma condenada à morte do intelecto[126], chegue ao desespero e acabe por dizer: “Quem me libertará deste corpo de morte?[127]” Pois eu fui constrangido contra minha vontade a submeter-me às leis do inimigo.



65. Não é sem razão que foi escrito: “Eles dirão entre si: Levantem-se, e vamos atacar este povo confiante e tranqüilo[128]”. Ou ainda: “Vamos, falemos com eles com mentiras, vamos desviá-los da verdade para que eles venham para nós[129]”. Pois os demônios malvados costumam afiar a espada das tentações contra os que escolheram a vida hesiquiasta. E quanto mais estes se dedicam à piedade e veneram a Deus, mais eles se tornam furiosos e mais eles empurram, em combates insustentáveis, para as obras do pecado. Eles chegam a desviar da fé em Cristo, da oração e da boa esperança aqueles a quem combatem assim. Mas nós, como disse Davi, “não nos desviaremos de você até que você tenha compaixão de nós[130] e que se afastem de nós aqueles que nos devoram[131]”. “Não nos desviaremos de você até que você tenha ordenado que se afastem de nós os que nos tentam, e que sejamos levados à vida pela paciência e uma firme impassibilidade. Pois a existência do homem é uma provação[132]. Muitas vezes, por um dado tempo, Aquele que dirige os combates o faz cair aos pés dos estrangeiros. Mas é próprio da alma nobre e generosa não se desesperar diante das infelicidades.



66. Se o demônio é forte o bastante para transformar o homem, mesmo contra a sua vontade, e arrastá-lo em seu próprio movimento fazendo-o sair do bom estado natural, quanto mais força não terá o Anjo que, num momento determinado, recebe de Deus a ordem de orientar para o melhor as faculdades do homem: Se o vento do norte glacial é forte o bastante para dar uma dureza de pedra à fluidez da água, o que não fará o fervente vento sul? Se o ar gelado força todas as coisas a obedecê-lo – pois quem poderá resistir ao frio[133]? – como não transformará o calor todas as coisas nelas mesmas? Pois quem poderá resistir ao calor[134]? Assim, acreditamos que tanto p frio como o negro carvão de nossa reflexão tornar-se-ão cedo ou tarde calor e luz sob a ação do fogo divino.



67. Existe um estado sempre presente que coloca no recôndito de nosso coração o testemunho e o signo da impassibilidade de José. Nós somos uma só coisa com este estado, segundo o qual o intelecto, ao sair do Egito, se desembaraça dos sobressaltos passionais e da servidão infamante dos vasos de barro, e escuta uma língua que ele não conhecia[135], não mais a língua dos demônios, que é suja e corrompe toda reflexão, mas a santa língua dos anjos que trazem a luz, e que faz o intelecto passar do corpóreo ao incorpóreo. Esta língua ilumina a alma que a recebe.



68. Eu escutei dizer alguns irmãos, que estavam continuamente doentes em seus corpos e que não podiam se dedicar ao jejum: “Como é possível sermos libertos do diabo e das paixões sem o jejum?” A resposta é: “Não é apenas pela abstenção a certos alimentos, mas pela súplica do coração, que vocês poderão extirpar e banir os vícios e aqueles que os avivam em vocês”. Com efeito, está dito: “Em sua aflição eles suplicaram ao Senhor, e ele os libertou[136]”. E também está escrito: “Do fundo do inferno eu supliquei. Você escutou a minha voz. Que minha vida supere a corrupção[137]”. Até que passe a iniqüidade, ou seja, a perturbação do pecado, está escrito: “Eu supliquei ao deus Altíssimo[138]”, a fim de que ele detenha com seu poder esta agressão do pecado, que ele apague as imagens suscitadas pela reflexão passional e que ele liberte nos corações fracos e cheios de ídolos. Se você não recebeu a graça da temperança, saiba: é pela prece e a esperança que o Senhor concederá aquilo que você pede. Assim, conhecendo a ordem do Mestre, não se desencoraje diante da impotência de sua ascese. Ao contrário, aplique-se em se afastar do inimigo pela oração e pela paciência reconhecida. Assim, se os pensamentos engendrados pela fraqueza e a miséria de sua natureza os expulsam da cidade em que reina o jejum, fujam para outra[139], ou seja, para a oração e a eucaristia.



69. O Faraó suplicou: “Que Deus afaste de mim esta morte[140]”, e ele foi atendido. Da mesma forma os demônios, quando imploraram a Deus que não os atirasse ao abismo, receberam o que haviam pedido[141]. Muito mais atendido será o homem cristão, quando ora para ser liberto da morte do intelecto.



70. Aquele que, durante um tempo, recebeu a graça divina da luz e do repouso, e que tombou na errância ao ser-lhe retirada esta graça, resmunga contra quilo que lhe acontece e, desesperando-se, não tem coragem de pedir pela oração esta plenitude salutar, é semelhante ao pobre que recebeu uma esmola do palácio, mas fica indignado por não poder entrar e almoçar com o rei.



71. Bem-aventurados aqueles que não me viram e creram[142]. E quando a graça é retirada, bem-aventurados os que não encontram consolo em si mesmos, que vêem prolongar-se a aflição e as trevas profundas e não se desesperam, mas que recebem da fé a força de considerar que vêem o invisível, e de perseverar nobremente[143].



72. A humildade que a graça de Deus concede aos que o buscam, depois de muitas lutas, penas e lágrimas, é imensamente mais forte e maior do que a humilhação experimentada pelos que desistem da virtude. Os que assim recebem a humildade são homens verdadeiramente perfeitos e irrepreensíveis.



73. Quando o diabo deixou o Senhor, os anjos vieram para servi-lo[144]. É preciso saber: assim como está escrito que os anjos estavam lá enquanto era tentado, também nós temos por perto os anjos de Deus quando somos tentados em certos momentos. Depois que partem aqueles que nos tentavam, chegam para nos servir os pensamentos divinos, os socorros, a iluminação, a compunção, a consolação, a paciência, a doçura, tudo aquilo que salva, conforta e reanima a alma que sofreu. Com efeito, foi dito a Natanael: “Você verá os anjos a subir e a descer sobre o Filho do homem[145]”, ou seja: o serviço e o auxílio dos anjos serão espalhados com abundância sobre a raça dos homens.



74. Lembre-se deste grande sacerdote a cuja direita sentou-se o diabo para  se opor a ele[146] em todos os pensamentos, palavras e ações corretas. Lembre-se, a fim de que tudo o que lhe acontecer não o perturbe.



75. É bom que o monge saiba o que é a fraqueza, esta fraqueza da qual foi dito: “Tem piedade de mim, porque eu sou fraco[147]”. Também é bom que ele saiba o que é o afastamento de Deus, esta apostasia que é doença do diabo e de seus anjos.



76. Assim como é impossível tocar o ferro que foi posto no fogo, também as orações freqüentes tornam mais forte o intelecto em seu combate contra os inimigos. É por isso que estes, com toda sua força, esforçam-se para nos fazer negligenciar a assiduidade da prece, sabendo que ela lhes é hostil e que ela protege o intelecto.



77. Davi considerava a boa vontade daqueles que, tendo saído com ele de Tsliklag para marchar contra os estrangeiros, detiveram-se ante a correnteza de Bosor, esgotados de fadiga[148]. Com efeito, retornando a eles depois da vitória sobre os bárbaros, e tendo ouvido propostas de que não se deveria dar parte do butim àqueles que, por serem fracos, ficaram retidos pela correnteza, Davi, em sua grande bondade, tomou sua defesa, quando até mesmo estes, envergonhados, não sabiam o que responder. Ele disse: “Eles ficaram para proteger as bagagens.” E concedeu-lhes uma parte igual aos que foram ao combate valorosa e corajosamente. Veja, portanto, quando um irmão primeiro deu provas de fervor e depois relaxou, se a fé, o arrependimento, a humildade, os gemidos, a paciência, a esperança, a perseverança, etc., não podem ser considerados como bagagens de salvação. Sentando-se junto deles, perseverando na espera de Cristo, um homem fraco recebe naturalmente uma graça eterna.



78. Foram chamados de levitas e sacerdotes aqueles que se consagraram totalmente a Deus pela ação e pela contemplação[149]. E foram chamados de gado dos levitas[150] aqueles que não tinham a força para perseguir as paixões, mas que eram iluminados pela virtude, esforçando-se tanto quanto possível para adquiri-la, e que não cessavam de desejá-la, mesmo que muitas vezes fracassavam por ferir-lhes o mal. Quando o tempo chegar, é bastante natural que também eles recebam o amor de Deus a graça da impassibilidade. Pois o Senhor atende o desejo dos pobres[151].



79. Muitas vezes temos consciência e enxergamos os ultrajes que o inimigo nos faz sofrer manifesta ou invisivelmente. Mas os tormentos e as dores que ele experimenta quando nos dedicamos às virtudes, ou quando nos arrependemos de nossas faltas, ou somos pacientes e corajosos nos revezes, ou quando rezamos e nos dedicamos a outras coisas que o mergulham nas torturas, nos castigos, nas lamentações e no desespero, nada disso vemos, providencialmente. De fato, foi dito: “Deus fará o que é justo: ele enviará a aflição àqueles que nos afligem[152]”.



80. Se o tronco da árvore que envelheceu na terra ou sobre um rochedo se torna verde como quando jovem logo que recebe água, também é justo que, rejuvenescidos pelo poder do Espírito Santo, renasçamos nós na incorruptibilidade que recebêramos por nossa natureza, e que demos frutos como uma planta jovem, ainda que tivéssemos tombado no homem velho.



81. A alma que condena a si própria por suas numerosas tentações e pelo enxame de seus pecados, e que diz a si mesma: “Nossa esperança foi destruída, estamos perdidos[153]”, foi respondido, por obra de Deus que não desespera de nossa salvação: “Vocês viverão e saberão que eu sou o Senhor[154]”. E à alma que se pergunta sobre como poderá ela gerar a Cristo por suas grandes virtudes, foi dito: “O Espírito Santo virá sobre você[155]”. Ora, aonde estiver o Espírito Santo, não busque mais a ordem e a lei da natureza e do costume. Com efeito, o Espírito Santo a quem adoramos é todo poderoso, e ele lhe submeterá aquilo que você não pode carregar, para que você se maravilhe. Esta é a vitória do intelecto que havia sido derrotado. Pois o consolador que vem do alto com sua misericórdia está acima de tudo[156]. Ele está acima de todos os movimentos naturais e de todas as paixões demoníacas.



82. Lute para manter intacta a luz que brilha em sua razão. Se você começar a enxergar as coisas com os olhos da paixão, o Senhor o cobrirá de trevas, retirará o freio que existe diante de você[157] e a luz dos seus olhos não estará mais com você[158]. Mas mesmo que você chegue a este ponto, não se desencoraje, não desista. Reze com o santo Davi: “Envie sua luz e sua verdade” sobre mim, porque estou triste. “Você é a salvação de minha face e meu Deus[159]”. Pois “você enviará seu Espírito e tudo será recriado, e se renovará a face da terra[160]”.



83. Feliz de quem aqui em baixo come e bebe insaciavelmente, note e dia, as orações e salmos, e que se fortifica com a gloriosa leitura das Escrituras. Pois uma tal comunhão dará à alma uma alegria inalterável no século por vir.



84. Com todas as suas forças, cuide para não cair. Pois cair não é digno de quem é forte e luta. Mas se você cair, levante-se o mais depressa possível e retome o bom combate. Mesmo que você caia dez mil vezes, dez mil vezes repita este gesto: levante-se. Até a sua morte. Pois está escrito: “Se o justo cai sete vezes, ou seja, toda a sua vida, ele se levantará sete vezes[161]”. Enquanto você possuir a arma do santo hábito[162] e ao mesmo tempo implorar e orar a Deus, você será contado entre os que estão em pé, mesmo que você tombe muitas vezes. Enquanto você permanecer entre os monges, como um soldado corajoso você receberá no rosto todos os golpes. Será sobretudo por estes golpes que você será louvado, pois, mesmo ferido, você não terá aceitado render-se ou recuar. Mas se você deixar os monges, você será golpeado por trás, como um fujão, um medroso, alguém que deserta e foge.



85. Desesperar é mais funesto do que pecar. Foi assim que Judas, o traidor, era fraco e não tinha experiência no combate; o inimigo atirou-se sobre ele que desesperava, e lhe passou a corda no pescoço[163]. Mas Pedro, esta sólida pedra, erguendo-se depois de uma queda terrível, não se deixou abater nem se abandonou ao desespero, pois ele tinha experiência no combate. Com o coração aflito e humilhado, ele derramou lágrimas amargas[164]. Vendo isto, nosso inimigo, com os olhos queimados como por chamas vivas, recuou imediatamente e fugiu para longe lançando grandes gritos.



86. Quem se devota à solidão deve sustentar um combate implacável sobretudo contra três coisas: a gulodice, a vanglória e o amor ao dinheiro, que é uma idolatria[165].



87. Por meio de salmos, hinos e odes espirituais, usando as palavras e os instrumentos de Davi, um rei de Israel venceu o povo dos trogloditas e outros bárbaros. Também você possui seus próprios bárbaros trogloditas, os demônios que penetram nos seus sentidos e nos seus membros, que atormentam sua carne queimando-a, que o predispõem a ver, ouvir e a sentir abandonando-se às paixões, a dizer palavras inconvenientes, a encher seus olhos de adultério[166], a manter a confusão dentro e fora de si como no país da Babilônia. Com grande fé, com salmos, hinos e odes espirituais[167], vigie a si próprio para destruir totalmente os trogloditas que trazem o mal.



88. Assim como o Senhor quer que o homem seja salvo pelo homem, também Satanás se esforça para que o homem se perca pelo homem. É por isso que você não deve se ligar ao pérfido que despreza os outros e não domina sua língua, a fim de não caminhar com ele para a danação. Mesmo aproximando-se do justo, a salvação já é difícil. Se freqüentarmos inconseqüentemente o homem malicioso, encontraremos diante de nós nosso próprio naufrágio, como a lepra. Então, quem terá piedade daquele que se alegrou aproximando-se do dragão? Assim, fuja de quem não domina sua própria língua, dos que disputam, dos que se atrapalham com seus membros no interior e no exterior.



89. Quem quer ser chamado de sábio, prudente e amigo de Deus, a fim de apresentar ao Senhor a alma tal como a recebeu dele, pura, intacta, totalmente irrepreensível? Quem o quer, a fim de, por isto, ser coroado nos céus e chamado de bem-aventurado pelos anjos?



90. Uma única palavra boa tornou puro e santo o ladrão, este ser que erra imundo, e o fez entrar no Paraíso[168]. E uma única palavra impensada proibiu Moisés de entrar na terra prometida[169]. Não consideremos que a falação seja uma doença benigna. Pois aquele que gostam de injuriar, que falam a torto e a direito, fecham as portas do reino dos céus para si. Mesmo que vá pelo caminho direito, um home que diz qualquer coisa não caminha direito, antes busca o mal e corre para sua perdição[170]. É justamente o que disse um sábio: “É melhor cair do alto sobre a terra do que pecar pela língua[171]”. É preciso, portanto, crer no apóstolo Tiago quando escreveu: “Que cada um seja pronto para escutar, mas lento para falar[172]”.



91. Para não inflarmos o orgulho, enganados pelos sentidos em nossa vaidade, é bom atentarmos para aquele que disse: “Vá, meu povo, penetre no tesouro do seu coração, este tesouro oculto a todo pensamento sensível, esta morada desprovida de ídolos, iluminada pela impassibilidade e pela sombra que lhe faz a santa graça. Feche a sua porta a tudo o que é visível, e esconda-se o mais possível, pois é breve a vida de um homem”. E ele completou: “Até que passe a cólera do Senhor[173]”. Outro falou assim: “Até que passe a iniqüidade[174]”. Tanto a cólera do Senhor como a iniqüidade podem ser os demônios, as paixões e os pecados. Como disse Isaías a Deus: “Eis que você está irritado, porque nós pecamos[175]”. O homem não escapa a esta cólera senão dedicando-se à oração em seu coração continuamente, esforçando-se para se manter no interior do santuário. Foi dito: “Coloque sua sabedoria mais alto do que as coisas mais profundas[176]”. É por isso que toda a glória da filha do rei é interior[177]. Também foi dito: “Eu faço tudo para entrar no santuário de Deus, sobre a montanha da herança, na moradia pronta que o Senhor construiu, no lugar santo preparado por suas mãos[178]”.



92. Quem deseja realmente renunciar, que imite o bem-aventurado profeta Eliseu que, em seu ardente e profundo amor a Deus, não guardou a menor coisa para si mesmo[179]. Distribua tudo o que lhe pertence entre aqueles que precisam e, tomando sobre si a cruz do Senhor, voe resolutamente para a morte voluntária que abre as portas do Reino.



93. Quando você chegar a compreender que o Amorreu que existe em você é forte como um carvalho[180], ore ardentemente ao Senhor para que ele seque este carvalho, no alto em seus frutos – o pecado ativo – e em baixo em suas raízes – os pensamentos impuros – e que ele afaste o Amorreu para longe de sua face.



94. Não se espante se rirem de sua hesíquia aqueles que são incapazes de vivê-la. Ao contrário, alegre-os com seus cantos e não guarde nenhum rancor. Oponha a eles a força muito maior de sua obediência a Deus, você que diz em seus hinos: “Alma minha, não se submeta senão a Deus[181]”. “Ao invés de me amar, eles me acusaram. Mas eu orei[182]” pela minha cura e a deles.



95. Se nenhum vento forte soprasse sobre o mar, não se veria nenhuma onda. Se o demônio não habitasse em nós, nem a alma nem o corpo seriam atormentados pelas paixões.



96. Se você levar consigo sempre o calor da prece e da graça divina, a Santa Escritura lhe dirá, como ao homem revestido das armas de luz[183]: “Sua vestimenta é quente[184]” Pois seus inimigos foram cobertos de vergonha e de infâmia[185], como por um manto.



97. Quando você se lembrar de suas faltas, não hesite em bater no peito, a fim de talhar com estes golpes seu coração endurecido, descobrindo amina de ouro do publicano[186] e regozijando-se com esta riqueza escondida.



98. Que o fogo das orações da santa meditação nas palavras do Espírito queime constantemente sobre o altar de sua alma, estas orações que sobem em direção ao mais alto.



99. Se você se esforçar sempre para calçar seus pés para preparar o Evangelho da paz[187], você construirá assim sua morada e a do seu próximo. Mas se você for negligente, invisivelmente você será desprezado conforme a Lei, e herdará o apelido daquele a quem roubaram as sandálias[188].



100. Se Deus é amor, como disse João, aquele que ama permanece em Deus e Deus permanece nele[189]. Mas quem odeia o próximo destrói os laços do amor, que, claramente, ele troca pelo ódio. Assim, aquele que odeia separa-se de Deus, se Deus é amor e se quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele. A Ele a glória e o poder por todos os séculos dos séculos. Amém.






DE NOSSO PAI ENTRE OS SANTOS, JOÃO CARPATOS
AOS MONGES DA ÍNDIA QUE LHE ESCREVERAM

DISCURSO ASCÉTICO E GRANDE CONSOLADOR
QUE COMPLETA OS CEM CAPÍTULOS







Jamais diga que o homem que vive no mundo e que possui esposa e filhos é mais feliz do que o monge e mais alegre, por fazer o bem a muitos, por distribuir abundantes esmolas e porque ele não é tentado pelos demônios. Pensando assim, você considera que você agrada menos a Deus do que ele. Não se lamente assim, como se você estivesse perdido. Eu não digo que a sua vida seja irrepreensível só porque você permanece vivendo entre monges. Mas, mesmo que você seja um grande pecador, a aflição e o sofrimento de sua alma serão aos olhos de Deus mais preciosos do que a mais alta virtude do mundo. Sua grande tristeza, sua fadiga, seus gemidos, sua angústia, suas lágrimas, o tormento de sua consciência, a indigência de seu pensamento, a reflexão que o condena, os golpes com que você bate no peito, a falta que lhe faz seu intelecto, a lamentação de seu coração, sua miséria, suas penas, seu desconsolo, sua humilhação, todas essas coisas e outras semelhantes que acontecem aos que são atirados na dura fornalha das tentações, são mais preciosas e agradam imensamente mais do que os agrados do homem do mundo.



Cuidado para que não se aplique a você a censura da divina Escritura, quando ela diz como que falando a você: “De que nos serviu suplicar diante do Senhor e passar todo o tempo em sua morada?[190]” É uma evidência: o servidor que permanece junto do seu mestre recebe às vezes algumas chicotadas, alguns tapas, censuras e injúrias. Mas os que vivem longe estão livres dos golpes, como estranhos, como homens a quem ninguém presta atenção. De que nos serve, então, cair em aflições, nós que não cessamos de orar e cantar, quando aqueles que não oram nem velam permanecem alegres, regozijam-se, prosperam e passam a vida folgadamente? Como diz o Profeta: “Eis que foram construídas moradias estrangeiras, e nós as achamos bem-aventuradas”. E ele acrescenta: “Estas são as coisas que denunciam os servidores de Deus[191]”, aqueles que possuem o conhecimento.



Mas é preciso saber que aqueles que são duramente atormentados, os que trazem sobre si o testemunho de seu mestre pelas provas que passaram, não sofrem nada que os possa surpreender. Pois eles ouviram anunciar nos Evangelhos: “Eu lhes digo, vocês que estão perto de mim chorarão e se lamentarão enquanto o mundo vai se alegrar[192]”. Mas dentro de pouco tempo eu os visitarei por meio do Consolador, eu dissiparei seu desencorajamento, eu os reanimarei com pensamentos da vida e do repouso celestes, e com as lágrimas doces que lhes faltaram nos poucos dias em vocês foram provados. Eu lhes darei o seio da graça, como a mãe oferece o seio ao filho que chora. Eu fortificarei com os poderes do alto a vocês que esgotaram os combates. Eu cumularei de doçura a vocês que foram cobertos de amargura, como diz Jeremias nas Lamentações ao f alar da Jerusalém que se esconde em vocês. Eu verei vê-los, e seus corações se regozijarão com esta visita secreta. Sua aflição será transmutada em alegria, alegria que ninguém poderá roubar-lhes[193].



Não tenhamos vista curta, e não fechemos os olhos, dizendo que os homens do mundo são mais felizes do que nós. Ao contrário, sabendo o que distingue os filhos legítimos dos bastardos, abracemos aquilo que é visto como a miséria e a grande pena dos monges, mas que têm seu fim na vida eterna, na coroa de glória do Senhor, que não se corromperá jamais[194].



Abracemos a pena dos ascetas que se sabem pecadores, pois eu não direi que eles são justos. Aceitemos sermos rejeitados para a casa de Deus, ou seja, para a ordem daqueles que servem continuamente a Cristo, e não habitarmos na casa dos pecadores[195], nem vivermos com os homens do mundo, por maior que seja sua justiça.



Eis o que eu lhe digo, ó monge, seu Pai celeste que o ama acima de tudo e que lhe envia, por meio de provações, as aflições e as penas: saiba bem, pobre monge, que eu o castigarei, como já disse pela boca do Profeta, e que eu irei ao seu encontro no caminho do Egito[196]. Eu o provarei pela aflição. Com os espinhos de minha providência eu fecharei os caminhos condenáveis[197], eu o ferirei com dissabores imprevistos, eu o impedirei de tocar adiante aquilo que você deseja em seu coração insensato. Com as portas de minha piedade[198] eu fecharei o mar de suas paixões. E com pensamentos de reprovação, de condenação, de arrependimento, que o farão tomar consciência daquilo que você ignora, eu serei para você como uma fera que o devorará. Ora, todas essas aflições são uma grande graça de Deus. Eu serei para você não apenas como uma pantera, mas como um aguilhão[199] que, por pensamentos de compunção e pelas penas do coração, o abençoará. Jamais o sofrimento deixará sua morada, ou seja, sua alma e seu corpo despedaçados para seu próprio bem e seu benefício pelos castigos de Deus, que destilam a doçura e o mel.



Mas o fim dos castigos, das penas, das perturbações, da confusão, dos terrores e dos desesperos que oprimem habitualmente aqueles que se propõem a viver na ascese, o fim de todas essas misérias é uma alegria celeste, de inexplicáveis delícias, uma glória indizível, uma exultação incessante. De fato, foi dito: Eu o afligi para colocar em sua boca o maná do conhecimento[200]. E eu o submeti à fome para cumulá-lo de benesses nos últimos dias e fazê-lo entrar no Reino do alto. Monges humildes, vocês dançarão neste momento como jovens animais libertados dos laços[201] das paixões da carne e das tentações dos inimigos. Vocês pisotearão os demônios iníquos que agora os pisam. Eles serão como a poeira debaixo de seus pés[202].



Pois se você venera a Deus, se você é humilde, se você não se torna inchado por um vão orgulho, se você evita a precipitação, se seu coração está penetrado de compunção, se você se considera como um servidor inútil[203], se seu espírito está alquebrado, se tanta é a sua humildade, então, ó monge, seus próprios defeitos são mais altos do que a justiça dos homens do mundo, se suas manchas são mais necessárias do que a grande purificação daqueles que desfrutam desta vida.



Então, porque você se aflige? Você não conhece senão a vergonha. Mas veja: se um homem tem as mãos sujas, um pouco de óleo as torna limpas. Quanto mais ainda poderá purificá-lo a piedade de Deus! Pois assim como você não tem dificuldade em lavar suas roupas, mais fácil ainda é para o Senhor lavá-lo de toda reprovação, mesmo que você tenha que enfrentar a tentação a cada dia. Com efeito, no momento em que você diz: “Eu pequei contra o Senhor”, lhe é dada a resposta: “Seus pecados lhe estão perdoados[204]”, “Eu sou aquele que apaga, e eu não recordo mais[205]”. “Assim como o Oriente é longe do Ocidente, eu afastei de você seus pecados. Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim eu tive compaixão de você[206]”.



Mas não se afaste, não se distancie d'Aquele que o escolheu para orar e cantar, mas permaneça ligado a ele por toda a sua vida, seja por pura confiança, seja pela santa audácia e pela confissão corajosa. Então ele o ouvirá e o purificará. Pois aquilo que Deus purifica por sua própria vontade, nem mesmo o grande apóstolo Pedro poderá chamar de impuro ou condenar. Com efeito, foi-lhe dito: “O que Deus purificou, não chame de impuro[207]”. E não foi Deus que nos justificou, em seu amor pelo homem? Quem nos condenará[208]? Se invocarmos o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, nossa consciência será facilmente purificada, e nada nos separará dos profetas e dos demais santos.



Pois Deus não nos destinou à cólera, mas à salvação por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós[209]. Assim, quer nos mantenhamos em vigília nas virtudes, quer durmamos em alguma miséria levados pelas circunstâncias naturais, viveremos com Cristo[210], voltando para ele nossos olhares, gemendo profundamente, chorando sem cessar, e não respirando senão nele. Vistamos a couraça da fé e coloquemos o elmo da esperança na salvação[211], a fim de que não nos firam as flechas do desencorajamento e do desespero.



Mas você diz: “Eu fico irritado vendo que os homens do mundo escapam às provações, enquanto eu me atormento terrivelmente”. Mas saiba, bem-amado, que Satanás não precisa tentar aqueles que tentam a si próprios e que estão sempre a rastejar sobre a terra pelas coisas desta vida. Saiba também o seguinte: as recompensas e as coroas estão reservadas aos que são provados pelas tentações, não aos que não se preocupam com Deus, nem aos homens do mundo que dormem e roncam. Eu sou atormentado por inúmeras provas, meus rins ardem de febre, como diz o profeta, eu sou infeliz e decaído, não existe cura para minha carne nem remédio para meus ossos[212]. Mas o grande médico dos que sofrem está próximo. Ele tomou sobre si nossas enfermidades. Ele nos curou com suas chagas[213]. Ele está aí, e aplica remédios salutares. Com efeito, foi dito: Fui eu que o feriu, que o deixou abandonado, e serei eu a curá-lo[214]. Portanto não tema. Quando cessar minha cólera ardente, eu o curarei de novo. Assim como uma mulher jamais se esquece de sentir piedade pelos filhos de seu ventre, também eu não o esquecerei, diz o Senhor[215]. Se um pássaro derrama sua ternura sobre seus filhotes, se os visita a todo o momento, se os chama, se lhes traz comida na boca, quanto mais minhas compaixões se derramarão sobre minhas criaturas. Eu o visito secretamente. Eu converso com a sua inteligência. Eu levo alimento à sua reflexão, que se abre como o bico da pequena andorinha. Eu lhe dou o alimento do temor ao Todo-Poderoso, o alimento do desejo dos céus, o alimento da consolação dos gemidos, o alimento da compunção, o alimento do canto, o alimento do conhecimento mais profundo, o alimento dos mistérios divinos. E se eu minto ao lhe falar assim, eu que sou seu Mestre e seu Pai, prove e eu me calarei. É isto o que o Senhor não cessa de dizer aos nossos pensamentos.



Quanto a mim, tenho consciência de ter me excedido ao escrever assim tão longamente. Mas foram vocês que me obrigaram. Eu não faço um discurso longo a não ser para sustentar aqueles que, por negligência, correm o risco de tombar. Pois, conforme vocês me escreveram, dentre vocês que estão na Índia encontram-se alguns irmãos que, oprimidos por tentações contra sua vontade, renunciaram à vida e à condição de monges dizendo que ela é sufocante e semeada de mil perigos. Eles louvaram abertamente a felicidade dos homens do mundo. Eles amaldiçoaram o dia em que tomaram o hábito de monge. Assim, fui obrigado a estender este discurso usando palavras simples, para que mesmo os ignorantes e iletrados possam compreender o que eu digo. Por isso lhes escrevi longamente, para que daqui em diante os monges não proclamem mais a felicidade dos homens do mundo, mas sua própria beatitude. Eu o afirmo sem nenhum espírito de contradição: os monges estão acima dos reis que trazem diademas sobre suas cabeças, eles são mais luminosos e mais gloriosos, pois eles estão sempre próximos de Deus.



E eu suplico sua caridade de se lembrar de mim continuamente em suas orações, de mim que lhes escrevi essas coisas, para que em minha miséria eu receba a graça do Senhor de terminar a vida presente na boa e santa morte. Que o Pai das compaixões e o Deus de toda consolação[216] lhes dê um consolo eterno e uma boa esperança, em Cristo nosso Senhor. A ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.



[1]      Cf. Filipenses III, 20.
[2]      Salmo CXLVIII; tb. Salmo CIV.
[3]      Cf. I Reis X, 11.
[4]      Cf. Êxodo III, 2.
[5]      Cf. João XI, 26.
[6]      Ezequiel XVII, 24.
[7]      Os maus pensamentos.
[8]      Cf. Eclesiastes IV, 19.
[9]      I Coríntios XV, 10.
[10]    Cf. Salmo XVIII, 49.
[11]    Cf. Êxodo XII, 51.
[12]    Cf. Êxodo, XVII, 16.
[13]    Cf. Deuteronômio IV, 38.
[14]    Cf. Daniel II, 23.
[15]    Cf. Salmo XXVII, 6.
[16]    Cf. Salmo LV, 7.
[17]    Cf. Salmo XVIII, 35.
[18]   Ibid., 40.
[19]    Cf. Isaías XLI, 10.
[20]    Cf. Êxodo XVII, 5.
[21]    Cf. II Samuel XXII, 50; Salmo XVIII, 50.
[22]    Cf. Salmo CIII, 4.
[23]    Cf. Salmo VIII, 1-2.
[24]    Cf. Êxodo XV, 7.
[25]    Provérbios XXVII, 14.
[26]    A literatura profana.
[27]    Cf. Mateus VII, 16.
[28]    Cf. I Coríntios III, 19.
[29]   Lucas II, 10.
[30]   Salmo LXVI, 4.
[31]   Salmo II, 11.
[32]    Cf. Mateus XXVIII, 8.
[33]    Cf. I João IV, 18.
[34]   Lucas, XXIII, 43.
[35]   Lucas VII, 50.
[36]    Amós IX, XIII.
[37]    Mateus IX, 29.
[38]    Tito I, 16.
[39]    Os ofícios litúrgicos.
[40]    Cf. II Coríntios XII, 9.
[41]    Salmo CXII, 4.
[42]    Hebreus III, 6.
[43]    Cf. Salmo CVII, 27.
[44]    Cf. II Coríntios I, 9.
[45]   Juízes VII, 2.
[46]    Cf. I Coríntios IX, 27.
[47]    Daniel VII, 25.
[48]    Cf. Mateus VIII, 29.
[49]   Oxyptérix.
[50]    Na Antigüidade a rêmora era considerada capaz de deter grandes embarcações.
[51]    Myriophoron. Literalmente: um navio que transporta mil ânforas.
[52]    I Tessalonicenses II, 18.
[53]    Cf. Juízes VII, 12.
[54]    Cf. Juízes VI, 4.
[55]    Juízes VI, 5.
[56]    Cf. Juízes VII, 7.
[57]    Cf. Salmo XCI, 13.
[58]    Isaías VIII, 10.
[59]    Cf. Salmo CXLV, 14.
[60]    Gênesis, XXVII.
[61]   Lucas XIV, 19.
[62]    Cf. I Coríntios VII, 17.
[63]    Cf. Gálatas V, 25.
[64]    Cf. Salmo CII, 17.
[65]    Cf. Ezequiel XXVIII, 13.
[66]    I Coríntios IV, 10; II Coríntios XII, 7.
[67]    Cf. I Coríntios V, 2.
[68]    Cf. Mateus XXIV, 30.
[69]   Gênesis XXI, 6.
[70]    Cf. Salmo CIII, 5.
[71]    Cf. II Reis V.
[72]    Cf. Gênesis III, 1 e ss.
[73]    Cf. II Coríntios II, 2.
[74]    Gênesis II, 17.
[75]   VIII, 20.
[76]    Cf. II Coríntios V, 2-4.
[77]    Cf. I Coríntios XV, 54.
[78]    Cf. Êxodo XIV, 27-28; Salmo CVI, 11.
[79]    I Coríntios IX, 27.
[80]    I Coríntios X, 12.
[81]    Gálatas VI, 1.
[82]    Cf. I Reis II, 1 e ss.
[83]    Cf. Mateus XXVI, 70.
[84]    Cf. Deuteronômio XXXIV, 7.
[85]    Salmo LXXI, 9.
[86]   Salmo LXXI, 6.
[87]   Mateus IX, 9.
[88]    Cf. Salmo XCI, 12.
[89]    Salmo LXIII, 3 e 5.
[90]   Isaías XLIX, 6.
[91]    Cf. Mateus VII, 11.
[92]    Cf. Lucas XI, 13.
[93]   Lucas XI, 13.
[94]    Cf. Ezequiel XVII, 24 e XXXVII, 1-11.
[95]    I Pedro V, 7-8.
[96]    II Tessalonicenses II, 10.
[97]    Cf. Salmo CXIII, 5-6.
[98]    Cf. II Timóteo II, 4.
[99]    Salmo CIV, 27.
[100]           Cf. João XX, 27.
[101]           Provérbios XVI, 26.
[102]           Cf. Lucas XXIV, 49.
[103]           Atos II, 2.
[104]           Cf. Salmo X, 9.
[105]           II Samuel VII, 27.
[106]           II Coríntios XIII, 5.
[107]           Cf. I Coríntios I, 30.
[108]           Mateus XI, 28.
[109]           Marcos II, 27.
[110]           Cf. Isaías LI, 17.
[111]           Cf. Atos XXI, 28.
[112]           Cf. Lucas XXIII, 42.
[113]           Cf. Mateus IX, 21.
[114]           Cf. Gênesis XXIV, 12-15.
[115]           Cf. II Reis IX, 22.
[116]           João III, 27.
[117]           Êxodo XXI, 36.
[118]           Cf. Mateus XII, 36.
[119]           Cf. Salmo CXXI, 6.
[120]           Cf. Êxodo XIV, 19.
[121]          XXI, 26.
[122]           Cf. Mateus XVI, 19; XXVI, 70.
[123]           I, 21.
[124]           Eclesiastes XI, 14.
[125]           Jeremias XXXVIII, 28; XXIV, 6.
[126]           Cf. II Coríntios I, 9.
[127]          Romanos VII, 24.
[128]           Cf. Juízes XVIII, 27.
[129]           Cf. Isaías VII, 6.
[130]           Cf. Salmo CXXIII, 2.
[131]           Cf. Isaías VII, 6.
[132]           VII, 1.
[133]           Cf. Salmo CXLVII, 17.
[134]           Cf. Eclesiastes XLIII, 3.
[135]           Cf Salmo LXXXI, 6-7.
[136]          Salmo CVII, 6.
[137]           Jonas II, 3-7.
[138]          Salmo LVII, 3.
[139]           Mateus X, 23.
[140]           Êxodo X, 17.
[141]          Mateus VIII, 31.
[142]           Cf. João XX, 29.
[143]           Cf. Hebreus XI, 17.
[144]           Cf. Mateus IV, 11.
[145]          João I, 52.
[146]         Cf. Zacarias III, 1.
[147]          Salmo VI, 3.
[148]           Cf. I Samuel XXX.
[149]           Cf. Números I, 5.50; III, 41.45.
[150]           Cf. Números III, 41.45.
[151]           Cf. Salmo X, 17.
[152]            I Tessalonicenses I, 6.
[153]           Ezequiel XXXVII, 11.
[154]           Cf. Ezequiel XXXVII, 6.
[155]          Lucas I, 35.
[156]           Cf. João III, 31.
[157]           Cf. XXX, 11.
[158]          Salmo XXXVIII, 11.
[159]           Salmo XLIII, 3 e 5.
[160]           Salmo CIV, 30.
[161]           Provérbios XXIV, 16.
[162]           O schèma, hábito monástico.
[163]           Cf. Mateus XXVII, 5.
[164]           Cf. Salmo LI, 19; Mateus XXVI, 75.
[165]           Cf. Colossenses III, 5.
[166]           Cf. II Pedro II, 14.
[167]           Cf. Efésios V, 19.
[168]           Cf. Lucas XXIII, 42-43.
[169]           Cf. Números XX, 24.
[170]           Cf. Salmo CXL, 12.
[171]           Eclesiastes XX, 18.
[172]           Tiago I, 19.
[173]           Isaías XXVI, 20.
[174]          Salmo LVII, 2.
[175]          Isaías LXIV, 4.
[176]           XXVIII, 18.
[177]           Salmo XLV, 15.
[178]           Êxodo XV, 17.
[179]           Cf. I Reis XIX, 20.
[180]         O Amorreu, inimigo de Israel, representa aqui o demônio; cf. Amós II, 9.
[181]           Salmo LXII, 6.
[182]         Salmo CIX, 4.
[183]           Cf. Romanos XIII, 12.
[184]           XXXVII, 17.
[185]           Cf. Salmo CIX, 29.
[186]           Cf. Lucas XVIII, 13.
[187]         Cf. Efésios VI, 5.
[188]           Cf. Deuteronômio XXV, 9-10.
[189]           I João IV, 16.
[190]        
[191]        
[192]        
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